15 anos depois

December 16, 2015 blog 1 Comment

Saí ontem à rua para fotografar com a nova Nikkormat. Já era tarde, o sol arrefecia depressa. Andei pelo Bairro Alto, indeciso entre abordar pessoas para as retratar ou apanhar ambientes. Já não fotografava em película há 15 anos. Não há auto-focus, não há modos semi-automáticos, não há ajustes do ISO. Todos os passos têm de ser pensados para cada fotografia. Encostei-me a uma parede, tímido. Tão blue como a cor do céu. As pessoas passavam mas eu não as abordava. Um homem apanhava cartões do chão. Apontei, ajustei diafragma, velocidade. Foquei. Perdi o momento. 15 anos fizeram-me perder técnica e agilidade.

Ao fundo da rua vem uma mulher. Bonita. Ganho coragem. Pergunto se a posso fotografar. Hesita. Pergunta para o que é.

– Olha, é uma coisa especial, sabes? Comprei ontem esta máquina. Aprendi a fotografar com uma igual. Não é digital, é de rolo. Não te vou conseguir mostrar a fotografia a seguir, mas trocamos contactos e depois dou-te.

Aceitou. Pousou. Procurei um local da rua onde o fundo me agradasse mais. Ajustei com tempo a máquina. Foquei. Não gostava da expressão que ela estava a fazer e esperei. Respirei audivelmente para que ela ouvisse e se distraísse. A expressão mudou. Disparei. Desencostei a máquina da cara e quis mostrar-lhe o resultado no visor. Ri-me da parvoíce. É como tentar conduzir um carro inglês, com mudanças à esquerda e bater violentamente com a mão direita na porta para meter a primeira.

O segundo e o terceiro retratos foram mais fáceis, como todos os que se seguiram. De repente a sensação de desconforto de abordar pessoas na rua transformou-se num sentimento novo, muito sereno. Tenho nas mãos e na vontade uma coisa muito especial para viver a dois, uma fotografia que não se vê logo, só depois de revelar. Não é maravilhoso?