da simplificação da linguagem

June 17, 2014 blog 1 Comment

Ando desconfiado que esta coisa de escrevermos com smiles :) :( nos reduz a percepção de emoções humanas a estados simplificados de felicidade e infelicidade, esquecendo e empobrecendo as nossas vidas, privando-as de outras hipóteses.

O que me cativa no retrato é precisamente obter uma expressão que não seja o óbvio, pré-formatado e expectável “sorriso para a câmara”. Gosto que um retrato me surpreenda, me faça olhar para uma pessoa mais que dois segundos, me dê vontade de a conhecer melhor, de a descobrir, saber o que pensa e sente sobre a vida. Acontece-me com um sorriso, que pode ter dezenas de variantes e tonalidades, como com um olhar sério, que me pode transmitir muito mais que tristeza. E isto faz-me muito feliz, acreditem, sem precisar de ficar depois a sorrir quando me apontam uma câmara.

Ocorrem-me estas ideias sempre que me dizem de um retratado não sorridente estar infeliz, com olhar triste, e se insiste nessa leitura afunilada.

Nada mais triste que um sorriso copiado retrato após retrato, selfie atrás de selfie, pretendendo mostrar uma ‘persona’ feliz, feliz e feliz, ou talvez feliz. (Quando se achata a comunicação com smiles, como quando se perde a espontaneidade num retrato, o resultado é também o achatamento da linguagem e a perda de vocabulário.)