Regresso a São Paulo

October 15, 2013 Brasil, Diário de viagem 0 Comments

O Rio é a cidade maravilhosa, mas as oportunidades de emprego estão em São Paulo, repetem-me todos os muitos novos amigos feitos desde que cheguei ao Brasil. Isto, conjugado com uma série de coincidências cósmicas, levou-me a regressar. A cosmologia fez-me escolher viajar de noite, acreditando conseguir dormir no ônibus. Zero. Uma noite em claro, apenas com a alegria de ver a luz do dia voltar. Não consigo perceber como é que uma diferença de latitude de uns 50km pode fazer tanta diferença no clima. Saio do Rio com sol e calor, chego a São Paulo com chuva.

RJ - SP

Estranhamente, fico feliz com o reencontro com o tempo invernoso. Talvez seja o meu lado europeu a reencontrar a bússula das estações, trocada na passagem da linha do equador. Fotografar a preto e branco parece ser novamente inevitável. Ou quase. Fico a pensar que temos de buscar a cor, a luz e o ambiente que os lugares têm, não lhes impondo demasiado o que nós somos, mas não fugindo totalmente ao que vemos. E o que vemos, claro, é subjectivo. Percebo que me sinto mais confortável a fotografar com a luz de São Paulo do que com a do Rio, pelo menos.

O ônibus chega à rodoviária de Tietê, onde passa o metrô. São 6 da manhã, mas a azáfama é intensa. Milhares de pessoas circulam já de casa para o trabalho. A logística da viagem não me permite fotografar no metrô, mas os rostos das pessoas impressionam. Muita gente aproveita a viagem para fechar os olhos e compensar a falta de descanso da noite. Apesar de não ter dormido na viagem sinto-me mais desperto que a maioria dos que me rodeiam, apenas com dores nos ombros por carregar as duas mochilas – uma à frente, outra atrás – e o tripé. Não tenho vivido nem o Rio nem São Paulo a estas horas, quando todos se deslocam da periferia para o centro. Falta-me um universo de histórias e experiências para compreender a vida nestas cidades.

Chego a casa, um apartamento partilhado, combinado na véspera. A chave estava à minha espera na entrada, com o porteiro. Encontro o quarto que vai ser meu durante as semanas que o alugar. É a primeira vez que alugo casa fora de Portugal. Não me emociona nem me assusta. Começo a sentir-me cansado e os ombros latejam. O colchão está junto ao chão, sem cama. Pouso as malas, fecho a porta, deito-me só para sentir o alívio no pescoço e braços. Durmo até às 12h.

Esta é a sala.