da simplificação da linguagem

Ando desconfiado que esta coisa de escrevermos com smiles :) :( nos reduz a percepção de emoções humanas a estados simplificados de felicidade e infelicidade, esquecendo e empobrecendo as nossas vidas, privando-as de outras hipóteses.

O que me cativa no retrato é precisamente obter uma expressão que não seja o óbvio, pré-formatado e expectável “sorriso para a câmara”. Gosto que um retrato me surpreenda, me faça olhar para uma pessoa mais que dois segundos, me dê vontade de a conhecer melhor, de a descobrir, saber o que pensa e sente sobre a vida. Acontece-me com um sorriso, que pode ter dezenas de variantes e tonalidades, como com um olhar sério, que me pode transmitir muito mais que tristeza. E isto faz-me muito feliz, acreditem, sem precisar de ficar depois a sorrir quando me apontam uma câmara.

Ocorrem-me estas ideias sempre que me dizem de um retratado não sorridente estar infeliz, com olhar triste, e se insiste nessa leitura afunilada.

Nada mais triste que um sorriso copiado retrato após retrato, selfie atrás de selfie, pretendendo mostrar uma ‘persona’ feliz, feliz e feliz, ou talvez feliz. (Quando se achata a comunicação com smiles, como quando se perde a espontaneidade num retrato, o resultado é também o achatamento da linguagem e a perda de vocabulário.)

Comments

One response to “da simplificação da linguagem”

  1. Cátia Avatar

    Gosto. Muito. Claro que uso os “smileys” para tentar passar alguma coisa para lá das letras, mas claro que também podem ser usados para fazer exactamente o contrário, para esconder o que está para lá das letras. Algo que fica muito mais difícil quando se tem o olhar, o gesto, o tom da voz a acompanhar. Valha-nos o conhecimento, mesmo que superficial, da pessoa que está a escrever do outro lado, para tentar evitar alguns mal-entendidos.

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