desgaste

December 14, 2011 Angola, Diário de viagem 0 Comments

Os dias fogem-me das mãos, passam depressa como o vento e estão a ficar turvos como a poeira levantada. As dúvidas e angústias das filmagens aumentam. A ideia de circunscrever o documentário ao bairro da Graça foi alterada por imperativos de projecto. Seria mais confortável para mim, mais fácil porque poderia criar mais facilmente rotinas e vínculos com os habitantes do bairro, mas fugiria ao trabalho que os Leigos para o Desenvolvimento fizeram nos últimos 15 anos noutros locais de Benguela.

Há lados muito positivos nesta derivação. Conheci o bairro da Damba Maria, que é muito diferente da Graça, conheci outras pessoas por lá, e tenho agora mais peças para montar o puzzle final. Eu gostava de ter peças íntimas, conseguidas à custa das horas exclusivamente dedicadas à conquista de confiança, mas ficará para outra oportunidade. Tenho ainda uma semana e meia pela frente que terei de aproveitar o melhor possível.

Outra dificuldade que tenho tido é o cansaço. O calor, o pó e a falta de disciplina de minha parte na hidratação têm-me deixado demasiadas vezes exausto. Carregar uma mochila às costas, a câmara ao ombro, e muitas vezes também um tripé, não ajuda. A imagem já é de marca e os motoristas dos táxis já me conhecem de vista, no mínimo, muitos conhecem de conversas. Tenho-as preferencialmente quando regresso dos bairros ao final do dia, às vezes no último percurso, no veículo já vazio. Falamos do negócio dos táxis, mas isso escreverei depois, se conseguir.

Uma dificuldade acrescida ainda é a degradação acelerada do meu equipamento. Não sei como é que a câmara tem aguentado tanto calor, quando ela em funcionamento já o gera. Hoje percebi finalmente que ter tido várias filmagens sem som nos últimos dias não tinha sido afinal erro humano, esquecimento ou distração minha, mas um problema num dos muitos cabos que ligam o microfone à câmara. Um mau contacto dentro do cabo fez-me perder metade das filmagens de hoje de manhã, o que me deixou intrigado à hora de almoço, quando vim a casa carregar uma bateria e passar as imagens para o disco, e todas as filmagens de rua que fiz à tarde no bairro da Graça. Salvaram-se duas entrevistas, felizmente.

Depois de parar de filmar para perceber o que se passava, segui cabo por cabo até dar conta do problema. Um troço de 20cm, mini jack com mini jack. Fio partido, dentro do cabo, que nalgumas posições ficava desligado. Resolvi não arriscar a perder mais energia a filmar em vão. Voltei à cidade e percorri várias lojas até finalmente encontrar um cabo com 1 metro e meio que faz a função e que terei de enrolar numa solução de improviso.

Estou cansado. Amanhã quero ver outra vez o acordar do Bairro da Graça, às 6h, e depois irei a um bairro com 5 mil habitantes ao longo do rio Cavaco com algumas indústrias que quero também filmar para mostrar o pouco que existe de sector secundário na região. À tarde, há festa no Centro Juvenil da Graça que, por razões óbvias, vou filmar.

Estou cansado. Vou dormir.