entrar em luanda

November 7, 2011 Angola, Diário de viagem 1 Comment

O percurso da periferia de Luanda até ao centro, cerca de 12km desde onde estou alojado até ao colégio onde vou dar um workshop de cinema, é coisa que pode demorar várias horas de carro. De manhã, pelas 11h, demorou pouco mais de uma, mas se for feito às 6h chega a demorar duas. Há quem saia de casa às 5h para começar a trabalhar às 8h. Foi o que me disseram os locais, eu não vi.

Pelo caminho vêem-se, para além da duplicação das faixas de rodagem por ultrapassagens contínuas pela direita que dão a constante sensação de estarmos a milímetros de toques, raspões e amolgadelas (não é só sensação, claro), pessoas a vender toda a espécie de artigos junto aos passeios, outros mesmo entre as filas de carros. Os musseques, bairros de auto-construção com população que fugiu do interior durante a guerra civil, outra que veio para a capital em busca de sonhos e melhores ordenados, são a paisagem quase constante ao longo do percurso até chegar ao centro da cidade. Alguns destes bairros têm vindo a ser demolidos pelo governo e as populações realojadas, em grande parte, mais uma vez segundo me disseram, com grande desgosto. Aqui e ali, cercados com muros altos, existem alguns condomínios de luxo. O verde dos relvados e a pintura homogénea das casas contrasta com o lixo espalhado no chão, o pó e terra que surge quando o perímetro do arame farpado termina.

As fotografias são manhosas porque não quis arriscar e usei uma máquina de bolso. Disseram-me que a polícia implica, que algumas pessoas também se chateiam, e ainda estou a conquistar lentamente as minhas zonas de conforto. Não foi só por isso que ainda não andei a pé em Luanda. Hoje estive o dia todo a trabalhar e não consegui sair para dar uma volta, mas vou ver se consigo amanhã.