há só mais calor, humidade e pó no ar

November 11, 2011 Angola, Diário de viagem 0 Comments

O trânsito em Luanda é mesmo um problema complicado. A cidade tem demasiada população a residir, uma orla gigantesca de bairros térreos de auto-construção, sem saneamento básico, onde reside a maioria dos cerca de 8 milhões de habitantes de Luanda, valor estimado, já que muita da população angolana não tem sequer bilhete de identidade nem existe recenseamento actualizado.

Basta assim uma pequena percentagem da população ter automóvel para congestionar por completo as vias de acesso a Luanda e o interior da cidade. Três horas e meia foi o que demorei anteontem para fazer 12 km, mas a média nos percursos casa-colégio é mesmo duas horas para cada lado.

Ontem a minha boleia atrasou-se e chegou às 12h30, para uma aula marcada às 14h. Às 13h45 estavamos ainda parados no centro de Luanda, a uns dois quilómetros da escola. Tudo estagnado, várias filas de carros entalados onde cabia metade. Saí da boleia, deixei a mochila com câmaras e portátil no carro e fiz o resto percurso a pé.

Os telefonemas não tardaram. Meu Deus! A pé???

Sem problema. Mesmo. Cheguei atrasado, às 14h15, mas a mochila chegou às 14h45.

É recorrente revisitar o “Sea Wolf” do Jack London, num diálogo entre o Humphrey e o Larson, o crítico literário resgatado de um naufrágio e o intrépido lobo do mar, ambos no convés enfrentando uma tempestade. Larson exibindo nervos de aço, sem tremuras, confundido-os com coragem. Humphrey reclamando a real coragem. Tremia, borrava-se de medo, mas ali estava, enfrentando a tempestade. Percorrer Luanda, ao contrário dos sound bites da moda, não é mais perigoso do que atravessar o Casal Ventoso ou a Cova da Moura.

Apanharam a ironia? Só se já passaram na Cova da Moura ou no Casal Ventoso. A sério, não é diferente de descer do Saldanha até aos Restauradores. Há só mais calor, humidade e pó no ar.