i love the smell of luanda in the morning
Hoje madruguei. Tinha uma boleia para a cidade logo às 6h e resolvi aproveitar para chegar cedo à cidade, pouco depois das 8h, para subir a pé da baixa até ao colégio, durante a manhã, com menos calor. Andei por ali a medir as ruas, a ouvir a agitação, gente de um lado para o outro a caminho do emprego, outros já a trabalhar na rua, a vender de tudo, desde jornais, fruta, raquetes eléctricas para matar mosquitos até extensões eléctricas feitas à mão com tomadas simples ligadas em série aparafusadas a uma pequena ripa de madeira.
Impressiona a quantidade de deficientes por poliomielite, de várias idades, no chão, a pedir, reflexo de um país que ainda está longe de conseguir fazer chegar a vacinação a toda a população apesar dos petrokwanzas que circulam em Luanda.
Pelo caminho, parei no Instituto Camões, onde aproveitei para rever a World Press Photo. Algumas imagens continuam a fascinar-me.
Arts and Entertainment, 1st prize singles, Andrew McConnell
Uma mulher em Kinshasa, estuda violoncelo nas tardes dos seus dias, depois de vender ovos no mercado de manhã. É instrumentista da única orquestra sinfónica da República Democrática do Congo. O aspecto desta rua é muito parecido com muitas ruas de Luanda. Imaginei-me a ouvir um violoncelo ser estudado atrás de um tapume no Kinaxixi.
Arts and Entertainment, 1st prize stories, Amit Madheshiya
Gosto muito desta porque gosto de cinema e das emoções que provoca. Gosto muito mesmo porque sinto cada vez mais que faz falta às pessoas sentir emoções em conjunto, em comunidade, em sociedade, e que o cinema ao ar livre é das forma mais bonitas de o fazer.
Daily Life, 3rd prize singles, Andrew Biraj
Esta interessa-me pelas várias discussões que tenho tido com amigos nos últimos tempos sobre sustentabilidade das cidades que temos hoje. Luanda é um bom exemplo de cidade-vítima de um crescimento demasiado rápido. Pensado para servir 500.000 de habitantes, é centro de uma área metropolitana com cerca de 7 milhões, com demasiados carros particulares e escassez de transportes colectivos. Resultado? Várias horas perdidas, milhares de litros de combustível consumidos, uma profunda pegada ecológica cavada diariamente nos chamados movimentos pendulares. Curiosamente, é um cenário que costumamos chamar terceiro-mundista mas que encontramos também em cidades europeias.
Continuei o caminho. Troquei euros por kwanzas na rua, bebi uma coca-cola, e acabei por me refugiar no ar-condicionado do Colégio. 32º de temperatura com 45% de humidades acaba por custar ao fim de algum tempo.
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