não há luz

November 23, 2011 Angola, Diário de viagem 0 Comments

A realidade energética de Benguela, pelo menos do contexto onde estou, é radicalmente diferente da de Luanda. Onde lá, na casa onde passei as primeiras duas semanas de viagem, havia gerador a gasóleo em permanência sempre que uma havia falhas na rede de electricidade – períodos de meia dúzia de horas de 3 em 3 dias – em Benguela apenas tivemos electricidade durante um par de horas, desde que cheguei no Sábado, há quatro dias. Como os recursos da ONG são limitados e canalizados para o trabalho no terreno, o gerador funciona apenas nas horas de maior necessidade. No Domingo, porém, à hora de jantar, o gerador deixou de funcionar. E quando isso acontece, restam as velas e lanternas de LED. Para arranjar o gerador é preciso chamar o Faz Tudo, uma profissão de mecânico que resolve tudo o que há a resolver. Normalmente é uma ocupação pós-laboral, a partir das 17h.

Dizem-me que nunca as falhas na rede de electricidade foram tão frequentes e prolongadas como agora, mas que é uma coisa a que terei de me habituar. As casas mais abastadas têm gerador a diesel que trabalha sempre que falha a energia da rede, mas a maioria da população é pobre. Leio em documentos oficiais que o governo angolano subscreveu a Declaração do Milénio das Nações Unidas, encetando esforços para a erradicação da pobreza em 10 áreas identificadas como prioritárias. Uma delas, ao nível da Educação, assume “com carácter estratégico as TIC – Tecnologias de Informação e Computação”, procurando, ainda segundo palavras oficiais, “colmatar o fosso demográfico e técnico científico existente entre a infra-estrutura humana e a estrutura económica”, assumindo como objectivo a “massificação da cultura informática na sociedade angolana e o incentivo ao uso das tecnologias de informação nas diversas actividades”.

Lembro-me de ouvir dizer, ainda em Luanda, a propósito do esquecimento rápido do desígnio marxista-leninista, “Vendemos electricidade à Namíbia, que a tem 24 horas por dia, enquanto aqui as falhas são frequentes”. Na altura, ouvi isto como se fosse uma coisa distante. Agora, continua a ser, nem um dia estivemos sem gerador porque o Faz-Tudo resolveu o problema às 18h, mas olho lá para fora e vejo que não há luz na maior parte das casas aqui da cidade.