La codicia de ver a los Inmortales, de tocar la sobrehumana Ciudad, casi me vedaba dormir. Como si penetraran mi propósito, no dormían tampoco los trogloditas: al principio inferí que me vigilaban; luego, que se habían contagiado de mi inquietud, como podrían contagiarse los perros. […]
[…] Argos, puestos los ojos en la esfera, gemía; raudales le rodaban por la cara; no sólo de agua, sino (después lo supe) de lagrimas. Argos, le grité, Argos.
Entonces, con mansa admiración, como si descubriera una cosa perdida y olvidada hace mucho tiempo, Argos balbuceó estas palabras: Argos, perro de Ulises. Y después, también sin mirarme: Este perro tirado en el estiércol.
Fácilmente aceptamos la realidad, acaso porque intuimos que nada es real. Le pregunté qué sabia de la Odisea. La practica del griego le era penosa; tuve que repetir la pregunta.
Muy poco, dijo. Menos que el rapsoda más pobre. Ya habrán pasado mil cien años desde que la inventé.
Jorge Luis Borges, “El Inmortal”
ESTUDO PARA ARGOS, CÃO DE ULISSES
Há qualquer coisa que me fascina nos cães de Varanasi. São livres, donos de si, algo que poucos homens se poderão orgulhar e raros cães privilegiados do primeiro mundo se lembrarão ainda, uma memória perdida algures na mais remota secção da dupla hélice.
Nas seis viagens que me levaram à mais antiga das cidades do mundo, destino de peregrinação das religiões que concebem a eternidade do tempo e a vida terrena como uma provação necessária até que os homens estejam preparados para se fundir no Nirvana, tive nos cães as testemunhas do azáfama de almas que se cruzam, companheiros de caminhadas exploratórias por ruelas estreitas, ou apenas a presença serena nas horas de meditação nocturna passadas junto ao Ganges.
Em muitos desses encontros, senti que revia familiares, amigos, velhos conhecidos ou mesmo um grande amor de outra vida passada há milénios. Uma ou outra vez, pareceu-me ter visto Francis Bacon.