reflexos e dúvidas

October 13, 2013 Brasil, Diário de viagem 0 Comments

Dica da Simone, que me convidou para almoçar ontem lá em casa, “não deixe de passar pela Casa Daros, para ver a exposição que inaugurou ontem. É maravilhosa!”.

A Casa Daros fica junto à zona do Botafogo, e ainda bem que levei a sério a sugestão porque me encantou, hipnotizou e me deu uma nova energia ver os jogos de luz e reflexos que Julio Le Parc imagina e constrói.

A exposição percorre várias salas, completamente às escuras. O que Julio Le Parc constrói são máquinas que se movimentam em loop, sistemas de espelhos ou placas de metal penduradas em fios, como um mobil, onde um feixe de luz é projectado. O resultado, e isso é que é absolutamente maravilhoso e encantador, hipnótico – já o disse -, são esses reflexos, lentos, sempre diferentes, fractais como a vida micro-celular. Projecções de luz entortada na parede, distendida ou condensada conforme o vinco da superfície metálica onde bater o feixe, e que se vai cruzando, em vários planos, com outras formas, primas, irmãs, figuras que nos evocam medusas, leões, facas, leques.

Gostei de olhar para as máquinas, tentar perceber o segredo mecânico de cada uma, e deliciar-me depois, longamente, no seu resultado visual, na interacção com os visitante da exposição, os aaahhhhs que provoca, os olhares brilhantes, as vidas que mudam com uma experiência destas. Havia quem olhasse para os reflexos, outros detinham-se na origem, fazendo leituras únicas e pessoais do que viam, cada um escolhendo a exposição que queria ver, os objectos que considerava realmente serem a exposição.

À saída, pus os fones e deixei Sassetti tocar, “Dúvida”. Passei o túnel do Botafogo e olhei para as coisas de outra forma.