Valério Romão

August 11, 2014 Photomaton 2 Comments

Não escrevo sobre o Valério porque existem o “Autismo” e “O da Joana“, dois livros avassaladores que vos recomendo com as mãos no fogo. Há um ano fotografei-o numa tasca da Mouraria e o retrato até apareceu num terceiro livro entretanto publicado, “Facas“, que ainda não li.

Depois foi convidado no Correntes d’Escritas e o Alfredo Cunha fotografou-o também. Vi todos os retratos que o Alfredo fez nessa tarde e percebi que aquela capacidade de captar uma alma me transcendia. Perguntei ao Valério como foi a sessão, na esperança que algum segredo me fosse revelado. “Pediu-me para me encostar a uma parede, para olhar para um lado, olhar para o outro, fez quatro disparos.” Treino, prática, horas e horas de experiência, estudo, análise e reflexão. Doses homeopáticas mas regulares e constantes de aprendizagem. Não me preocupando se o talento existia em mim, sabia que precisava sobretudo de retratar para vencer o mistério.

Nesse dia começou o Photomaton, num exercício diário, sempre no mesmo local, procurando em mim os meios para conseguir despir as capas de desconforto ou convenção social com que normalmente nos cobrimos quando nos apontam uma câmara. E quando apontamos uma câmara também, é preciso entender.

Fiz 100 sessões. A sessão do Valério seria naturalmente a 101ª. Não por querer e combinar propositadamente para isso, insisto,  mas porque esta coisas dos números encerram em sim muito mais do que as aparentes coincidências ou simbologias. Faria sentido fotografar o Valério, depois de 100 sessões de “treino”, voltando ao que me serviu de mote. Seria simbólico e conclusivo, não tivesse aparecido a Bete fora do horário combinado, naquela 6ª feira à tarde.

Fico feliz que tenha sido assim e que a beleza da marca se tenha quebrado. Quando olho para os retratos do Valério sinto que houve em mim uma grande evolução desde Março, mas fico ainda mais radiante ao perceber que existe um longo caminho a percorrer. O vislumbre do mistério da alma das pessoas, o fascínio que sinto quando mergulho no olhar de outro, o prazer que me dá descobrir um pouco além do que conhecia é o que me mantém vivo e faz querer que exista pelo menos mais um dia. Espero que isto nunca se apague.

É evidente que o Valério não poderia ter sido o 101º retratado.

Photomaton CII
Valério Romão
8 Agosto 2014

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