fomos ao peixe no mercado do casseque
A manhã foi tirada para abastecer a casa de alimentos. Fui com a Joana e a Mariana ao mercado de Casseque, um bairro junto à praia, na periferia Sul de Benguela. O percurso foi feito de táxi, as Toyota Hyace que fazem de autocarro por aqui. Éramos 16 lá dentro, hoje. A tarifa é mais barata que em Luanda, 80Kz (a conversão para as moedas próximas é mais fácil em dólares na relação 1/100. 100Kz = 1USD). Já agora, a comparação de preços entre Benguela e Luanda é desconcertante. Uma Coca-Cola, comprada na rua aos moços que andam com geleiras carregadas de refrigerantes, custa 50Kz em Benguela, metade do que em Luanda. Mas a água engarrafada é mais cara, quase o dobro. Mais cara ainda que a cerveja, que é mais ou menos o mesmo preço entre Luanda e Benguela.
A entrada no mercado é feita pelas ruas do bairro. A estrada é de terra batida, completamente ondulada, com covas que dão a meio da canela de um homem. Carros e motas passam, às vezes sem esperar que os peões encostem à parede das casas para conseguirem pôr-se a salvo.
Muitas crianças a correr de um lado para o outro, alguns animais – cães, sobretudo – solitários e com aspecto agastado e frágil. Os primeiros sinais que a maioria da população se dedica à pesca artesanal chegam pelo cheiro intenso da seca de peixe, uma forma de conservação para compensar as muito frequentes e prolongadas falhas de energia que tornam inútil o frigorífico – quando o há. O peixe é aberto ao meio, limpo das entranhas e posto num pano, no chão, ao sol. Não sei se o barram com alguma coisa que lhe dê aquele tom acastanhado, mas vou perguntar-lhes da próxima vez. Depois de secos, os peixes são encostados uns aos outros em pequenas pirâmides.
Antes de chegarmos à praia, existe ainda uma segunda secção do mercado com algumas, poucas, vendas de produtos de mercearia.
Mas o forte do mercado do Casseque é a venda de peixe no areal da praia. A maior parte chega nos barcos a motor que estão ancorados ao largo, e as bancas são improvisadas em cima de panos estendidos, alguns por baixo de um toldo improvisado com quatro troncos que sustentam um lençol, outros ficam mesmo ao sol. A venda é feita por mulheres, que chamam os compradores ora dizendo o nome do peixe ora juntando o preço à quantidade. Não existem balanças, a troca é feita à unidade, depois de alguma negociação. Um ‘pula’ – um branco – , tem de se esforçar se quiser ter os mesmos preços dos locais. Raramente consegue. Raramente consegue sequer saber quais são os preços locais, pelo que quase sempre sai do mercado satisfeito. Na verdade, os únicos brancos que estavam no mercado àquela hora éramos nós.
Os homens não se ocupam. Andam por ali, a ver. Calculo que tenham sido eles ir e vir nos barcos. Outros, mais novos, adolescentes, arranjam o peixe em cima de plásticos e cobram o serviço. Algumas crianças procuram vender sacos de plástico aos clientes para transportar o peixe comprado.
A relação das pessoas com a máquina fotográfica é pacífica. É fácil fotografar, se se pedir. Prefiro fotografar sem que olhem para mim, mas não lhes quero pedir para pousarem. Muitos vinham ter comigo a pedir um retrato. Alguns perguntavam quanto era. Outros dirigiam-se aos retratados a dizer Tu és estúpido. Ele vai levar isso para Portugal para verem como somos todos pobres em Angola.
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