Claire Dycha

February 3, 2015 Photomaton 0 Comments

Imaginei-me durante semanas a levantar da minha secretária, andar vinte metros até à mesa dela, dizer-lhe olá, explicar o projecto de retrato que ando a fazer com os residentes do Coworklisboa, apontar para a parede onde estão vários desses retratos afixados, perguntar-lhe se aceitava vir comigo até às almofadas do Photomaton, ouvir uma recusa, insistir timidamente, ouvir nova recusa, agradecer, dizer adeus, virar o corpo 180º, e caminhar de volta à minha cadeira com a auto-estima estilhaçada, os ombros curvados e olhar no chão, a ouvir risinhos sussurrados de todos os que viram a abordagem falhar. Uma e outra vez, mais de uma dezena, fui e voltei, cada vez mais humilhado, cada vez mais rebaixado. Tudo na minha cabeça.

Ontem estava na copa a aquecer água para fazer chá e ela aproximou-se. Perguntei-lhe o que fazia. É arquitecta. Trocámos nomes. Achei engraçado o sotaque brasileiro sem o ser. É francesa mas viveu um ano em São Paulo. Não percebe tudo o que digo, falámos às vezes em inglês, com algumas palavras de francês. Contei-lhe de um realizador de documentários que gosto muito, o Nicolas Philibert, e de um filme pertubador que lhe vi no docliboa de 2010, Nénette, que mostra durante mais de uma hora um orangotango enjaulado num jardim zoológico, apenas com os comentários dos visitantes como som de fundo. Disse-me que também queria fazer um documentário, sobre arquitectura, urbanismo e a capacidade das cidades em resistir a catástrofes naturais porque a preocupa o crescimento das grandes metrópoles nos anos que mais recentes e a falta de preparação existente para os cada vez maiores fluxos migratórios das populações rurais.

Depois perguntei se a podia fotografar e ela disse que sim. À primeira.

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Claire Dycha
3 Fevereiro 2015

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